segunda-feira, 2 de abril de 2012

Alma de Garanhão: brincadeira de cachorro

No haras não havia o que fazer apenas pastar e pastar, até que apareceu o Bob com a idéia de brincar de pega –pega, o Pingo não se animou muito achou meio sem propósito, mas como nos arredores não se via nenhum cavalo há não ser um garanhãozinho que as vezes passava  por lá, então não vi nenhum problema, distração é distração, topei e tratei de convencer o Pingo a participar.
O Bob explicou a brincadeira: - Pega-se o graveto e corre e o outro vai atrás e quando alcançar pega o graveto e corre e assim vai.  Foi o que ele disse, novamente o Pingo reclamou  -Como vamos pegar um graveto Quatrilho, só  vocês mesmo. Eu com toda a paciência que não tenho, expliquei que íamos fazer algumas modificações, aperfeiçoar a brincadeira, e depois de tanto explicar o convenci.
Sempre que estava entediado, sem ter o que fazer, eu pegava o galho, bom o graveto teve que virar galho, porque não ia pegar bem eu correndo com um gravetinho,  chamava o Pingo para brincar e se ele recusasse, metia o galho nele, e por alguma razão ele concordava, eu corria com o galho ele me perseguia, ele corria eu perseguia... e assim ia, horas e o tempo passava.
Numa manhã, nossos donos estavam próximos aos cochos com o tratador, e enquanto nós comíamos escutei ele contando sobre nossa brincadeira, os donos riram e ele continuou dizendo que a idéia era minha, não sei por que um deles disse:  - Só vendo. Mais tarde, conversando com o Pingo sobre o assunto, ele veio com uma conversa que isso era brincadeira de cachorro, que cavalos não brincavam disso e que deveríamos nos ater a pastar e correr como todo cavalo normal. Como sempre discordei,era só o que me faltava obedecer aos desejos do Pingo.
Alguns dias depois, o Pingo sofreu um acidente e ficou lá com dor no pé, não se assustem não teve nada a ver com o pega-pega, ele se feriu feio em uma estaca de árvore que fora mal cortada, mas, é uma história longa conto em outra ocasião. O problema é que o Pingo ficou sem poder correr e andar. Passava o dia na baia e brincar de pega-pega estava fora de questão, e o pior, ainda estava sendo muito paparicado por todos. Imaginem como eu me encontrava,  pastava sozinho não tinha animo pra nada, era um tédio, nessa ocasião já não havia nem a companhia do Bob,  e o Pingo nada de ficar bom, passaram-se dias até que ele pudesse sair da baia. Cansado, de esperar resolvi me fazer de doente também,  e durante um de seus curativos era como diziam, resolvi ficar lá de pé levantado. Meus donos então passaram a tratar minha perna também assim pude esperar que o Pingo ficasse bom.
E quando ele pode ir ao campo, fiquei tão feliz que  peguei o primeiro galho que era mais um tronco, e chamei o Pingo para brincar e como sempre ele não ficou nem um pouco interessado na brincadeira. Disse que estava com dor, fora de forma, que ainda não estava totalmente bom. Só por um furinho no pé, então fui firme:  só um pouquinho Pingo eu começo, vai por favor eu  vou devagar, não custa, e ele como sempre topou. Eu adoro esse cavalo, e foi nesse dia que meus donos nos viram brincando de pega-pega com galho.

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